Camelos vasculham a bolsa
areia branca na roupa
fresco quente sol poente
Como ensinar de novo, contudo, o que havia sido ensinado corretamente e aprendido de modo errôneo um milhão de vezes, ao longo dos milênios da mansa loucura da humanidade? Eis a última e difícil tarefa do herói. “O herói de mil faces” – Joseph Campbell
Quando permanecemos ligados a idéias e pensamentos de diversas naturezas, eles deixam impressões nos nossos sentimentos e sentidos emocionais. Todos os sentidos se corrompem e seguem um caminho errado. Se tal procedimento continuar por um longo período, nós os tornaremos piores. As marcas feitas assim nos sentidos e indryas os tornam sólidos como uma rocha, destituídos de bodh, ou sabedoria. Sem dúvida a alma não sofre essa ação, mas criamos obstáculos e invólucros tais, que a mantém totalmente encasulada, como um bicho da seda.
Quando eu era pequena,
eu acreditava muito em Deus,
mas ele não acreditava muito em mim.
Hoje, que eu sou adulta,
e já não sei mais se acredito nele,
ele vem todo dia em casa e pergunta:
- Noemi, Noemi,
você já resolveu?
- Resolvi o quê, Deus?
- Se você acredita ou não em mim.
- Não, Deus, agora eu estou ocupada.
Ele senta e fica esperando.
Ontem eu falei pra ele:
- Tá bom, Deus. Eu acredito em você.
Ele foi embora todo feliz.
(Mas na verdade eu não tenho certeza.
Falei que era para não deixá-lo esperando.)
Noemi Jaffe
... nunca esqueço o modo civilizado e amável com que ela me recebeu no [Palácio da] Alvorada mostrando, com conhecimento, as obras de arte do acervo. É figura histórica importante. Trouxe um tom de civilidade moderna (e dignidade de postura) ao lugar de primeira-dama"
Caetano Veloso
Numa só coisa, estranhamente, a natureza se recusa a dar aos homens um desejo forte. Trata-se da liberdade, um bem tão grande e tão aprazível que, perdida ela, não há mal que não sobrevenha e até os próprios bens que lhe sobrevivam perdem todo o seu gosto e sabor, corrompidos pela servidão.
A liberdade é a única coisa que os homens não desejam; e isso por nenhuma outra razão (julgo eu) senão a de que lhes basta desejá-la para a possuírem; como se recusassem conquistá-la por ela ser tão simples de obter.
Discurso Sobre a Servidão Voluntária (1549)
Título original
Discours de la servitude volontaire
Étienne de La Boétie (1530-1563)
Hyeronymus Bosch
by artegenial.blogspot.com
A Dança do Universo
Marcelo Gleiser
Pg. 396. Como vimos, a cosmologia é a única da Física que lida com questões que podem também ser legitimamente formuladas fora do discurso científico
Não, não me enganei. Gleiser continua recusando-se a admitir que há possibilidade de se estender o discurso científico para abarcar questões que são excluídas do discurso atual. Ele começou seu livro fazendo uma resenha de alguns mitos da criação. Mas para ele, esses mitos são questões religiosas, que fogem à possibilidade de compreensão, e tratam de questões de fé. Ele está correto quanto às religiões antigas, as tradicionais e as muitas novas "Igrejas" que pululam por aí arregimentando os incautos. Só que hoje já existe a possibilidade de se lidar com questões não-físicas conservando os princípios fundamentais que deveriam nortear uma ciência humana. Obviamente os mitos que ele cita não são compreensíveis com o discurso atual da ciência. Mas isso não significa que esse discurso não pode ser ampliado. Basta para isso ter coragem de se sair do poço do materialismo, sem abdicar da objetividade, da consciência na experimentação e na transmissão de conhecimentos por meio de conceitos. Isso É possível, e já foi feito.
Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!
Não vejo nada, tudo é morto e vago…
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho…
Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!…
E chamam-nos a nós Iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!
Florbela Espanca - Trocando olhares - 24/04/1917
Olha só, que cara estranho que chegou
Parece não achar lugar
No corpo em que Deus lhe encarnou
Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguém
Tem tudo sempre às suas mãos
Mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão
A imagem de um rapaz de bem
Olha ali quem tá pedindo aprovação
Não sabe nem pra onde ir
Se alguém não aponta a direção
Periga nunca se encontrar
Será que ele vai perceber
Que foge sempre do lugar
Deixando o ódio se esconder
Talvez se nunca mais tentar
Viver o cara da TV
Que vence a briga sem suar
E ganha aplausos sem querer
Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir