16 de março de 2010

ISMÁLIA

quando Ismália enloqueceu
pos se na torre a sonhar
viu uma lua no céu...
viu uma lua no mar..
no sonho em que se perdeu
banhou-se toda em luar
queria subir ao céu...
queria descer ao mar..
e no desvario seu
na torre pos se a cantar
estava perto do céu...
estava longe do mar...
e como um anjo pendeu
as asas para voar
queria a lua do céu...
queria a lua do mar...
as asas que Deus lhe deu
ruflaram de par em par
sua alma subiu ao céu...
seu corpo desceu ao mar...
Alphonsus de Guimarães 1870-1921

14 de março de 2010

O DIA A DIA O TEMPO TODO


ela tem dado importância à realidade intrínseca e à delicadeza das coisas e das pessoas, presta atenção agora nisso antes de tudo, e de repente começa a perceber o conteúdo que não corresponde e entende as coisas ao inverso, que é o jeito que elas, não tão surpreendentemente assim, acabam sendo mesmo
as falas que não ecoam no coração, compensadas pelas amizades de qualquer hora a qualquer momento sem nunca haver limite para a ajuda "branca", nem para a bronca dócil , nem para a hora da besteira e do riso permanente dela adolescente... dada a sutileza do momento as coisas mais dificeis atingem e só se dissipam no coração,
e quando menos se espera, e cada vez mais muda toda a qualidade da frequencia e da vida afinal do dia a dia, do tempo todo,
e acaso o entorno esteja em outra estação começa a soar fora de foco também, e não dará mais liga simplesmente, porque ela está numa sintonia sutil e delicada de olhar as coisas e constatá-las simplesmente, para depois ver "se" sente alguma coisa e se alguém tromba ou liga numa outra energia é como se estivessem falando, ela e a pessoa, em linguas desconhecidas uma pra outra ...
e o sentido ficará dado pelo movimento labial, pelo calor ou pela in-expressão do olhar,
se não houver sentimento tudo pode virar nada também, não faz a menor diferença, isso traz também algumas outras perspectiva duras, mas que ela já considera quase sempre...sem esconder nada de si mesma,
isso tem feito ela prestar atenção no imediato ato
até o pondo de deter o olhar em vapor que sai do prato quente, em pés plantados no chão, bagunças externas e sono solto, isso tem feito ela se permtir rir apesar das dores do mundo, sem preocupação alguma, só com a disposição legitima de fazer o que pode por si antes e pelo mundo na sequencia, em igual ordem de prioridades, estando todos, e mais nada,
a cumprir o projeto e viver de pé sem capengar emocional e pode amar apesar das atitudes por vezes aparentemente não indicarem nada disso...parece que isso tudo tem lhe feito muitíssimo bem, nada nunca mais é o que parece,
esse tempo já passou.....

ALEGRIA DE VIVER

... eu lhe perguntei se ela havia conseguido juntar seus cacos depois de ter perdido um filho adolescente que suicidou-se, e ela me olhou com aquele olhar vibrante e cheio de energia e respondeu que..Não! mas que se eu tivesse perguntado se ela recuperou a alegria de viver apesar de ter perdido seu filho ela diria que...Sim! e era legítimo porque eu estava vendo que ela é a prova viva dessa recuperação... disse que prometeu-se a si e aos demais filhos que todos seriam de novo felizes e eles são! tenho orgulho dela. queria homenageá-la com um céu cheio de estrelas de presente, como aquele céu debaixo do qual andamos em dunas e açudes no passado bem longinquo, tenho orgulho dessas minhas amigas, cada uma com seu modo inteligente de ser ma assim como para mim pra nenhuma delas a vida é exatamente um mar de rosas. Não nos vemos nunca e isso não faz a menor diferença, sempre procuro saber onde estão morando mesmo que não vá vê-las e o que estão fazendo, onde trabalham, com quem vivem, e se quiser vê-las eu posso, um dia vou porque deu vontade e assim foi esta tarde enquanto ela coava animada e falante de micro vestido o seu longo café na cafeteira preta eu a ouvia com admiração e pensava que agora tô mesmo numa outra fase da qual posso também me orgulhar, aquela em que as ajudas os apoios as conversas vem no meio do nada ou nem vem, surgem ou não, porque aquilo tudo que é estar uma diante da outra já é a própria troca que sustenta a tal alegria de viver , dela e minha. Eu gosto de ser fortuita, de olhar e decidir se quero ou não livremente, assim como quando se é dona do tempo, das horas do prazer puro e simples de admirar o outro na sua propria realidade e não precisar mais que ele te deixe a vontade, acho que me libertei e por isso sorví como quem toma uma sorvete e se baba toda, pingando na roupa essa visita leve e despretensiosa, feita depois de dormir a tarde toda, lavar a cara e ir até lá. Ao sair trouxe no peito a lembrança da mesinha da sala onde discreto repousa num porta-retrato o olhar imortalizado do filho que se foi, lindo, de cachinhos rindo no sofá da sala, uma vela de anjo de guarda acesa e uma nossa senhora, provavelmente a das mães , bj amiga, love you forever!