14 de março de 2010

ALEGRIA DE VIVER

... eu lhe perguntei se ela havia conseguido juntar seus cacos depois de ter perdido um filho adolescente que suicidou-se, e ela me olhou com aquele olhar vibrante e cheio de energia e respondeu que..Não! mas que se eu tivesse perguntado se ela recuperou a alegria de viver apesar de ter perdido seu filho ela diria que...Sim! e era legítimo porque eu estava vendo que ela é a prova viva dessa recuperação... disse que prometeu-se a si e aos demais filhos que todos seriam de novo felizes e eles são! tenho orgulho dela. queria homenageá-la com um céu cheio de estrelas de presente, como aquele céu debaixo do qual andamos em dunas e açudes no passado bem longinquo, tenho orgulho dessas minhas amigas, cada uma com seu modo inteligente de ser ma assim como para mim pra nenhuma delas a vida é exatamente um mar de rosas. Não nos vemos nunca e isso não faz a menor diferença, sempre procuro saber onde estão morando mesmo que não vá vê-las e o que estão fazendo, onde trabalham, com quem vivem, e se quiser vê-las eu posso, um dia vou porque deu vontade e assim foi esta tarde enquanto ela coava animada e falante de micro vestido o seu longo café na cafeteira preta eu a ouvia com admiração e pensava que agora tô mesmo numa outra fase da qual posso também me orgulhar, aquela em que as ajudas os apoios as conversas vem no meio do nada ou nem vem, surgem ou não, porque aquilo tudo que é estar uma diante da outra já é a própria troca que sustenta a tal alegria de viver , dela e minha. Eu gosto de ser fortuita, de olhar e decidir se quero ou não livremente, assim como quando se é dona do tempo, das horas do prazer puro e simples de admirar o outro na sua propria realidade e não precisar mais que ele te deixe a vontade, acho que me libertei e por isso sorví como quem toma uma sorvete e se baba toda, pingando na roupa essa visita leve e despretensiosa, feita depois de dormir a tarde toda, lavar a cara e ir até lá. Ao sair trouxe no peito a lembrança da mesinha da sala onde discreto repousa num porta-retrato o olhar imortalizado do filho que se foi, lindo, de cachinhos rindo no sofá da sala, uma vela de anjo de guarda acesa e uma nossa senhora, provavelmente a das mães , bj amiga, love you forever!

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